- Aonde vim eu parar! Dentro do inesperado. No desconhecido.
Fui seqüestrada por um sentimento e dele me escravizei.
Escrava mansa, de ancas quentes a lhe esperar.
Nunca havia sentido isso assim desse jeito. Que parece fogo de busca-pé de festa de São João a queimar dentro do peito.
Quando seu moço se vai, me arde que até da dó. E quando seu moço se venha, balanço que nem cipó.
Êta rima mais chinfrim Serafim! Só pra rimar no fim.
Essa é exatamente a maior dificuldade. Falar.
As palavras não se encaixam. Formam bolinhas de dizer coisas sem sentido tentando dar sentido ao sentido.
É tão intensa essa vontade de estar em você, pela pele, pelos poros, pelos pêlos, pelos vasos, pelo cheiro, pelo hálito. Que por dentro me contorço pra controlar o esforço de me achegar.
E a maior dor é que eu não posso violá-lo. E minha avidez é inviolável.
Como não beijá-lo em sonho se sua boca adormece junto à minha nos quintais dos meus lençóis?
Sentir seu cheiro no sofá que tem seu molde cada vez que me recosto numa sesta ou num luar. Seria desesperador se não fosse o ungüento pro meu sangrar.
Seu tempo no meu compasso é torto.
Eu preferia mil vezes não ter que dizer que amo. Eu nunca jamais soube o que queria dizer isso e continuo não sabendo. E espero não saber nunca.
Mas se o que eu sinto não é amor, ou o que dizem por aí dele, não sei o que eu sinto. É um bem querer maior que o querer pra si. É um mundo por seu sorriso. É dar-lhe o melhor. É ser-lhe o melhor. É um encantamento hipnótico. É um querer gritar intermitente, um gargalhar junto, uma vontade de dar cambalhotas no ar. De chorar, soluçar, babar, espremer entre os dedos, apertar, apertar, apertar até que já não exista mais a razão do meu sofrer.
E então lhe beijar levemente os lábios ávidos, quase em paralisia. O coração apertando a garganta, respiração ofegante. Uma insistente tentativa de negação, falida.
A força magnética de dois campos opostos nos atrai irreversivelmente. Já não há como resistir. E eu me entrego. Mas não sem medo.
- E quanto a ti? Sem mim, onde estás? Sem mim, onde estarás? Comigo, aonde vais?
Por que, afinal, tanto renegas o que já existe? Até quando vais resistir? Até que o medo estanque num repente e te faças vir? Vem com medo e tudo que se tu caíres eu te seguro. Acolho-te em meu seio maternal. Úmido e quente. Quente como tu bem sabes.
E, então, onde estarei eu na tua imensa demora? Que caminho tomarei eu. Eu. Que sou um imenso lago de paciência inerte diante tua beleza. Nossos imensos nos devoram. Tu me trazes imensa calma, imensa alegria, imenso carinho, imenso prazer, imenso gozo. Só não me trazes paz. Mesmo sabendo que voltarás, meu coração aperta sem saber quando partirás enfim. Saberei eu viver sem ti? Claro que sim, me diz a razão, tão senhora de si. Mas de mim não sou senhora e nada sei de meu coração. Que medo de ser feliz e um dia não ser mais! Selo meu caminho ao teu e por onde andarei?
- O que existe entre nós, enfim? Quantos de nós nos atam e quantos nós desatam em nós? Para mim, o mais complicado é...
Ai, que minhas vísceras parecem terem se partido em mil!
- O que parece ser não é, e o que é? De todos percalços, você é o maior álibi. Tantos desejos desconexos desembocam em tua boca. O tempo é ínfimo ao meu perder em ti.
COPYRIGHT texto Renata Gabriel
foto em copyleft na web
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