Tímida conversa entre eu e mim – no bar.
Há um momento pequeno de euforia. Maltratada a carne se consome. Exímio reflexo de um arqueiro nato. Fonte de total inspiração. Poética. Dialética. Transfiguração.
Primeiro passo a seguir: em frente. Segundo passo a seguir: em frente. Rumo ao nada infinito. Em frente. Sempre.
Bobagens ergonômicas. Balelas rotineiras dos estudos filosóficos do botequim da esquina.
Mais uma cerveja!
E eu nem gosto de beber...
Mas se quer saber mesmo o que eu acho, deveria perguntar-me diretamente, sem rodeios.
Isso tudo é para contornar o vazio. Na verdade, uma estratégia. Estratagema.
Verossímeis semelhanças. Enigmáticas rotulações. Perco a esperança do porvir. Mas acerco-me de realejos. Impropérios. Malditos malvados matizes. Eloqüência.
Projeto o desígnio e estipulo o preço. Só de saída.
Enlouquece-me o pulsar.
Estraçalha-me o rancor.
Embaralha-me o pedir.
Uma cerveja, por favor!
Não se bebe por aqui?
Por que perguntas?
Sabes onde está a resposta?
Coração?
Não foi isso que eu disse?
Não?
Então o que foi?
Pai! Onde foi que eu me meti?
Não se bebe por aqui?
Perguntas...
Vais ou não vais perguntar?
Responderei.
Até onde vai o jogo?
Até a cartada final.
E qual é ela?
A conquista.
De?
Demorado o atendimento aqui!
Talvez eu precisasse de um gole pra responder.
Dele.
É isso? Quem?
Aquele que é. Aquele que está.
E aquele que fica?
Não conheço. Não posso conhecer.
Existe?
Tentativas.
No momento?
Tentativas.
Perfeito. O mais próximo?
Sim.
Se trata de?
O dos olhos de mar.
Como todos.
Sim. Constrói-se com algum!
Será que alguém pode me trazer uma cerveja!
Eu não agüento mais isso.
Não?
Quem disse?
Quem?
Sim. É um jogo. Era isso que querias escutar?
Perigoso.
Não tenho mais medo de perder...
E quem falou de medo?
O medo é de ganhar!
O que eu faço com esse enorme oceano na minha sala eternamente?
E quando eu for totalmente eu e ele totalmente ele, como seremos? Onde nos esconderíamos?
Será melhor que ser o oco. O oco, o oco, o oco, oco, o eco, o eco, o eco, o ego, o ego, o ego, o osso.
Quero aprender, mesmo que às vertigens.
Não choro carícias, permito construções. Monto os tijolos. O tempo é argamassa.
Envelhecer é bom por isso.
Saber reconhecer o cheiro nas mãos é mais que mero sonho, é ver construir. Com uma dose de feitiço.
Qual a poção ideal? Qual será a dose? Onde andarão as receitas?
Coração? Foi isso que eu disse?
Esse jogo já foi longe demais!
E qual será mais curto que esse?
A paciência mata o medo.
Já nem sei se quero mais beber.
Aceitar o jogo, entender as regras, aceitar jogar, aprender a jogar. Etapas particularmente dolorosas e febris. Os intervalos são brandos, para compensar. Afinal, há sempre o bálsamo pra a ferida, qualquer que ela seja.
Quem come quem?
Eu queria apostar, mas só tenho moedas para jogar. A escolha é óbvia.
Tolo. O que é óbvio?
Essa cerveja não vem mesmo, não é?
Tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac, tic, tac.
E o cheiro não sai.
E quando o cheiro nas mãos for um terceiro, vindo do nosso misturado?
Saberei reconhecer ou estarei embalsamado nesse néctar?
COPYRIGHT texto e foto Renata Gabriel
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